Tive a honra de ser convidado para a inauguração da exposição itinerante relativa ao sesquicentenário de nascimento da pessoa de quem nosso estado tomou emprestado o nome. A organização do evento, realizado em Ji-Paraná, pelo Museu das Comunicações, me permitiu o uso da palavra em nome da OAB Rondônia. São considerações que considero de grande importância para nós, rondonienses, pelo que as reproduzo aqui.
“Somente pela paz e jamais pela guerra deveremos penetrar nos sertões”. A orientação tem a assinatura do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, cujo sesquicentenário de nascimento comemoramos este ano. E é sobejamente conhecida, como também o é a declaração de Theodore Roosevelt, para quem “A América pode apresentar ao mundo duas realizações ciclópicas: ao norte, o canal do Panamá; ao sul, o trabalho de Rondon – científico, prático, humanitário”. Da mesma forma, não escapa ao conhecimento público que Rondon foi, por duas vezes, indicado ao prêmio Nobel da Paz, uma delas por nada menos que Albert Einstein. Nem que o antropólogo Darcy Ribeiro foi quem melhor definiu sua grandeza: “Nós podemos apontar Rondon para o mundo e gritar: este é o nosso herói! ”.
Essas informações integram o excelente trabalho de Mário Cesar Marques na página da Exposição permanente “Rondon – o marechal da paz” montada no espaço cultural da Vila Miliar, no Rio de Janeiro. Para nós e nosso filhos, contudo, o trabalho de maior fôlego que talvez deva ser creditado exclusivamente a Rondon foi a ocupação bem-sucedida desta nossa fronteira amazônica, apontada como a provavelmente única reforma agrária que deu certo no Brasil. Desnecessário dizer que deu tão certo que nosso desempenho econômico é surpreendente num cenário nacional absolutamente pessimista. Rondon não previu isso, mas sinalizou: “devemos penetrar pela paz nos sertões”.
Não se pode dizer que seus ensinamentos tenham sido seguidos à risca, posto que o relacionamento dos colonizadores com os povos indígenas não se pode dizer terem sido rigorosamente pacíficos no país. Mas é preciso cuidado e atenção para perceber a existência de interesses pouco ortodoxos a fomentar conflitos. Um exemplo é o que aconteceu com os arrozeiros de Roraima, em Raposa Serra do Sol, onde a Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia (Cindra), aponta que a demarcação e expulsão dos fazendeiros foi um desastre para a economia do Estado, para os fazendeiros e para os indígenas.
Ou o que está acontecendo agora mesmo no Mato Grosso do Sul, onde todos os indicativos apontam para conflitos de extrema gravidade entre fazendeiros e índios que dizem inclusive estar sendo arregimentados até no Paraguai. É preciso atenção, mas especialmente serenidade para que a eventualidade de incidentes como os já registrados aqui, no garimpo de diamantes da reserva Cinta Larga, não se repitam. Sem esquecer, contudo, o que os mais antigos sabiam: pescadores de bagre gostam de águas turvas.
Mas não se pode esquecer que nossa região foi habitada, em tempos imemoriais, por indígenas das etnias Aruás, Cintas-largas, Gavião, Jabutis, Canoês, Karipunas, Amondauas, Caritianas, Araras, Kaxarari, Kwazá, Ñambiquaras, Macurap, Sakurabiat, Oro-uins, Paiter e Tuparis. Quantas dessas etnias subsistiram? Quantas foram aculturadas e quantas simplesmente desapareceram? A lembrança é pertinente. Especialmente quando comemoramos o centésimo quinquagésimo aniversário de nascimento do Marechal Cândido Rondon e o sucesso do esforço de cada cidadão rondoniense na consolidação da forte economia de nosso estado, não podemos perder de vista que nossa terra é habitada também pelos índios.
Podemos assegurar que a OAB está pronta a contribuir com a realização de estudos e avaliações da realidade rondoniense, na busca de orientação sobre os caminhos a serem seguidos para garantir a continuidade de nosso desenvolvimento. E para que, absolutamente dentro da legalidade e sem se desviar daquilo que estabelece a Constituição da República, os benefícios desse desenvolvimento possam estar presentes à mesa de cada cidadão.