Não se desconhece que a Ordem dos Advogados do Brasil há muito é uma das instituições que detém extrema credibilidade na sociedade brasileira, credibilidade esta cara, construída historicamente pelos movimentos de vanguarda, coragem e deveras elevados, praticados pelos advogados do Brasil ao longo de toda sua história. Aliás, o respeito à Advocacia vem antes mesmo do nascimento da Ordem.
Pessoalmente, inclusive, esse alto grau de respeitabilidade da Advocacia foi um dos aspectos que me influenciou na hora da escolha da mesma para minha vida profissional e tenho certeza que o mesmo ocorreu com muitos colegas advogados.
A Advocacia sempre possuiu líderes nacionais, silenciosos, inteligentes, porém impressionantemente influentes e fortes; Respeitabilíssimos! Rui Barbosa, Pontes de Miranda, Luís Gama, Heráclito Fontoura Sobra Pinto, Clóvis Beviláqua, dentre outros tantos que anonimamente colaboraram para efetivar verdadeiras transformações sócio-políticas favorecendo a sociedade brasileira em sua evolução e pacificação. Repise-se que as principais características desses líderes foram: a coragem, o alto nível intelectual, o equilíbrio e, sobretudo, o respeito a Advocacia como classe.
Faço esse introito tendo em vista que há quem diga – e enxergue até com certa normalidade! Não o é! – que “época de eleição” os ânimos se acirram e algumas atitudes/comportamentos são compreensíveis e/ou justificáveis.
Registre-se que os ícones acima nominados mesmo sendo intensas figuras no cenário político – seja política pública ou institucional – jamais se permitiram serem marcados pelo desrespeito, desequilíbrio ou por atitudes imaturas que fossem capazes de expor a advocacia ao julgamento da sociedade que não a vive, não a conhece e, portanto, não tem nenhuma relação com os assuntos que são de interesse eminentemente doméstico e que em uma percepção superficial, pode fazer brotar uma falsa sensação de fragilidade da mesma, de modo que me preocupo gravemente com o quadro.
Essa semana fui abordado por um cliente em meio a um atendimento em meu escritório que me indagou: “Hein, doutor, que “confusão é essa que vi no facebook sobre a OAB? Vi que VOCÊS estão se “pregando no pau” por eleições, é isso mesmo?”
Confesso que fiquei profundamente chateado com o “atrevimento” de um “estranho” (à Advocacia) fazer um julgamento tão feio para nós, Advogados. Justo nós que defendemos a sociedade e que lutamos para que ela seja cada vez melhor, mais sensata, menos injusta, mais respeitosa, etc. Por outro lado, compreendi a curiosidade daquele “telespectador” já que os embates, confrontos, brigas, guerras, naturalmente sempre atraíram a atenção do homem. É assim desde a formação das mais primitivas sociedades. A luta é, inclusive, entretenimento.
Não bastasse esse episódio, fui despachar no gabinete de um(a) magistrado(a), que me indagou com sutil sarcasmo se esse ano teríamos eleições na OAB. Com a minha resposta positiva, vi um sorriso cínico seguido do comentário: “percebi! Parece que será uma eleição “divertida” não é, Doutor!? Ao mesmo tempo que fiquei deveras indignado com o comentário e com a audácia da figura, refleti que infelizmente demos (nas eleições passadas) e talvez já estejamos dando (nesse momento pré-eleitoral) azo para sermos julgados dessa forma.
Daí me permito fazer o seguinte questionamento aos colegas Advogados: Essa é a imagem que passaremos a ter nos períodos de eleição institucional? Será que seremos talvez imaturos ou irresponsáveis ao ponto de desconstruir tudo o que nossos antepassados profissionais lutaram com muita dignidade e competência para conquistar e construir?
Não quero aqui fazer juízo de valor de quem está certo ou errado; quem é melhor ou pior; Mas, tão somente chamar a reflexão os colegas e ponderar se de fato, expor nossas eventuais imperfeições e/ou falhas (torno a frisar que não emito juízo de valor; toda moeda tem dois lados) em redes sociais e em locais públicos é a melhor forma de “convencer” a advocacia de algo ou se isso não passa de uma forma de exposição desnecessária, imatura e até irresponsável e egoísta de nossa classe ao público leigo que nada tem a ver com nossos problemas ou virtudes?
Em um tempo difícil para a advocacia onde muitos juízes militam contra nossas prerrogativas e a valorização de nossa classe; onde vários promotores atuam de forma personificada contra a advocacia; onde já alguns delegados, serventuários, etc nos tratam como se “favor” estivessem fazendo; onde estamos sendo criminalizados por defender nossos clientes; onde somos subjugados na fixação de honorários, dentre outras aberrações diárias enfrentadas a duras penas pela advocacia, o que menos precisamos é dar combustível para que essas injustiças se fortaleçam e, em via inversa, de forma (perdoem-me) inconsequente e irresponsável, estamos nós próprios a mostrar (certo ou errado) que não nos respeitamos dentro de nossa própria “casa”. Como vamos muro a fora exigir respeito, se não nos respeitamos? Se nos expomos infantilmente a tudo e a todos?
Temos todo direito de expor nossa insatisfação sobre o campo institucional, porém devemos faze-lo internamente e de forma elevada; responsável; digna! Temos todos vários grupos próprios de whatsApp, e-mails de colegas; convívio diário, enfim, um sem fim de meios para difundir nossa insatisfação – de lado a lado – mas fazê-lo ao “respeitável público” é reprovável, como já justifiquei acima, afinal, A ADVOCACIA CLAMA POR RESPEITO E EQUILÍBRIO! Reflitamos!
Alex Sarkis – Advogado
OAB/RO 1.423