As recentes declarações do ministro da Justiça, Torquato Jardim, alegando que os comandantes dos batalhões da Polícia Militar do Rio de Janeiro são “sócios do crime organizado”, ampliam o estado catatônico e a cada dia mais conturbado da segurança pública.
Sem citar nomes, o ministro ainda afirma que membros do Poder Legislativo dominam, nos moldes de um titereiro, as nomeações de postos-chaves do Executivo. O governo estadual desmente.
Se verdade ou ficção, só o tempo trará a resposta. Entretanto, assertivas dessa natureza ajudam a corroer qualquer esperança ou crédito quanto à atual política de segurança.
A declaração atribuída ao ministro da Justiça é gravíssima e expõe a situação de esvaziamento e total impotência do governo estadual. A crise da segurança no Rio demanda ação coordenada entre os diferentes níveis de poder.
Infelizmente, parece não haver nenhuma possibilidade de reação por parte do Executivo do estado.
A questão também toca em um ponto que deve ser investigado: até onde a sombra do crime se estende sobre aqueles que deveriam preservar a lei. Se não há indícios da total contaminação da cúpula de comando, há notórios exemplos de milicianos em diferentes áreas da cidade.
O único fato concreto é que, nesse lamentável tiroteio de denúncias e acusações, a vítima — uma vez mais — é o cidadão do Rio.
Os números refletem o trágico cenário: recorde de mortos, entre policiais (115 até o momento) e cidadão comum (2.942 vidas, só nos primeiros cinco meses do ano); escolas fechadas (contam-se nos dedos em quantos dias a rede abriu 100%); diluição das UPPs; lentidão no julgamento de casos envolvendo agentes militares; entre outros.
A solução para sair deste cenário é a mobilização da sociedade civil, de forma consciente, para influenciar a condução das políticas de segurança pública no estado.
É urgente a discussão de temas e questões que muitas vezes acabam negligenciados ou mesmo obstaculizados durante as disputas eleitorais.
Dentro de seu papel democrático, a OAB/RJ convida os segmentos e representações da população a construir, por meio do diálogo respeitoso e propositivo, uma nova agenda para a segurança pública no Rio.
É preciso debater o uso de inteligência e tecnologia no enfrentamento ao crime; refletir sobre políticas públicas transversais de prevenção da violência, além de buscar respostas para o problema do financiamento das políticas de segurança.
Da mesma forma, é indispensável advogar em favor de um novo arranjo federativo, que permita a colaboração entre os entes da Federação e, claro, enfrentar o tema da produção legislativa visando a adaptar a legislação penal ao atual contexto social do país.
Em meio à crise política e econômica de grandes proporções, que afeta, sobremaneira, a ação do poder público estadual, é preciso que a sociedade exerça seu protagonismo na busca por soluções.