O mês de julho tem sido especialmente cruel para as melhores lembranças de minha infância. Ainda consternado pelo falecimento de Moreira Mendes, sou mais uma vez chocado com a supressão, nesse plano da existência, de outra personalidade extremamente querida, Manoel Francisco das Chagas Neto, o “Tidim”, como era carinhosamente chamado. Penso que o passado é um lugar agradável para visitar, não para ficar. Mas sempre que a nostalgia me conduzia a revisitar as lembranças mais queridas, lá estava Chagas Neto, com os filhos Kelly, Kátia, Kelson e Kersia, presenças indissociáveis de meus momentos mais felizes. Chagas Neto é mais uma estrela que se instala na constelação de Rondônia.
Nascido em Sobral, no Ceará, filho de Filho de Egberto Frota Carneiro e Alba Chagas Carneiro, Chagas Neto foi abandonou, em favor do trabalho, a graduação na Universidade Estadual Vale do Acaraú, no Campus da Betânia, lá mesmo, em Sobral, para trabalhar como representante de um laboratório farmacêutico, para em seguida ligar-se ao setor de construção civil, do qual jamais haveria de se afastar. Seu espírito empreendedor conduziu-o, no entando a ocupar o cargo de presidente da Rádio Cidade e diretor fundador do Jornal Meio Dia, em Sobral, antes de se transferir para Rondonia, na direção de construtora EGO – Empresa Geral de Obras. Até que fundou, em 1984, sua própria empresa, a Chagas Neto Construções e Incorporações.
Lembra o advogado e particular amigo, João Paulo das Virgens, que Chagas Neto foi responsável pela construção dos maiores conjuntos habitacionais de Porto Velho, como Santo Antônio, Marechal Rondon, 4 de Janeiro e 22 de Dezembro, por iniciativa do então governador Jorge Teixeira. Tais conjuntos, depois transformados em grandes bairros, destinavam-se a combater o elevadíssimo deficit habitacional em função do explosivo crescimento da cidade.E tornaram-se a marca histórica do trabalho de Chagas Neto em Rondônia.
Cordial, invariavelmente bem-humorado, atencioso e educado, o empresário acabou seduzido pela atividade política, na qual elegeu-se deputado federal constituinte em 1986, para depois ocupar o cargo de Secretário de Obras e Serviços Públicos no governo Jerônimo Santana. Ele também disputou uma cadeira no Senado da República, quando protagonizou uma das mais atordoantes falhas do Ibope. O próprio diretor da instituição ligou para Chagas Neto, no dia da eleição para anunciar que a pesquisa de boca de urna havia dado sua vitória como favas contadas e que ele já poderia comemorar. Contados os votos, no entanto, ganhou Odacir Soares.
João Paulo das Virgens também lembra a importância da participação de Chagas como uma de nossas mais expressivas lideranças empresariais, na presidência do Sinduscon ou como presidente do Conselho de Representantes do Sistema Fiero. Sem jamais perder de vista os movimentos sócio-culturais, dos quais foi grande incentivador, tendo inclusive ocupado a presidência da Escola de Samba Pobres do Caiari. Em sua administração foi construída a quadra coberta da escola, um grande galpão instalado nas proximidades da Assembleia.
Por sua iniciativa foi criado, no Facebook, o grupo “Saudosismo Portovelhense”, hoje o maior acervo digital de fotografias e história de Porto Velho e Rondônia, com quase 30 mil membros. Após um período de afastamento, Chaguinhas se preparava para voltar à atividade política na disputa de uma cadeira na Assembleia Legislativa.
Descanse em paz, querido “Tidim”.