O país passa por uma degeneração política, talvez, nunca antes vista. Soma-se aí a degeneração ética, institucional e econômica e por aí vai. Convivemos muito próximo com esta realidade quando nos deparamos com a baixa qualidade da governança política que vem de nossas cidades e territórios e os impactos que causam, na insuficiência da gestão e das políticas públicas para o desenvolvimento econômico e social local. Iniciativas para tentar o resgate da crença democrática são percebidas, como novos partidos políticos, nomes poucos conhecidos e até inusitados se lançando para as próximas eleições. Ações partindo da sociedade civil propagando uma postura mais profissional, transparente e coerente com os objetivos a que se espera da política, não podendo deixar de citar, a operação lava-jato punindo as lideranças e políticos corruptos envolvidos.
O fato é que vivemos em uma democracia, com um baixo exercício da cidadania, dando sinais de que “pela dor” há que se desenvolver e elevar. Muito sabemos de nossos direitos e pouco ou quase nada de nossos deveres. E um dos principais, senão o motivo da existência da democracia, é o exercício de cidadania contribuindo para melhoria das condições institucionais, estruturais, ambientais e humanas que lhe cercam. Cercam seus negócios, sua família e você, cidadão.
Exercer a cidadania passa por participar em nosso município e/ou território da vida pública, dos temas da cidade, do que a desenvolve socioeconomicamente e que está presente além dos muros de nossas residências e nossos empreendimentos ou nosso trabalho. Este ambiente existe independentemente de participarmos ou não, porque de alguma forma o poder público tem o papel de cuidar. Entretanto, relegar somente ao poder público, ainda que com recursos e boa gestão, não seria suficiente para o que de melhor se possa colher para nossas famílias e nossos negócios. Senão pela descontinuidade que sofre a cada 4 anos com a mudança de governo, mas também pelo fato de que os cidadãos são quem efetivamente vivem nas cidades e sabem das suas oportunidades e desafios.
Nas cidades onde a sociedade civil se mobilizou e se organizou, contando com lideranças empresárias, sociais, acadêmicas e tantas entidades que compõem o capital intelectual de cada cidade, os frutos colhidos falam por si: ganharam resiliência para enfrentar as crises, sejam de que natureza for e agilidade para aproveitarem as oportunidades. Em destaque se preparam para o futuro, ainda que no decorrer do tempo tantos gestores municipais virão pelas eleições. Quando falamos em sociedade civil organizada, falamos no exercício do empreendedorismo cívico-social, criando um capital social que pensará a coletividade, o fortalecimento da comunidade, o aprimoramento da articulação, o entendimento da política institucional, da meritocracia, o apartidarismo, da gestão e políticas públicas, reconhecendo os limites da ação do Estado e melhorando, por exemplo, o desenvolvimento socioeconômico, a qualidade de vida e o ambiente de negócios da cidade e ou território.
Em termos comparativos, o empreendedorismo privado e social diferem significativamente. O empreendedorismo social está pautado nas ações que desenvolvam o coletivo, tem seu foco na solução dos problemas e oportunidades que estão presentes nas cidades, e que beneficiarão os mais diferentes segmentos da sociedade. Exige o redesenho de relações entre comunidade, governo e setor privado, com base no modelo de parcerias. O resultado final desejado é a promoção da qualidade de vida social, cultural, econômica e ambiental sob a ótica da sustentabilidade. O caminho é da cooperação em vez da competitividade, da eficiência sistêmica em vez de eficiência apenas individual.
O perfil do empreendedor social é de uma pessoa que contribui para provocar mudanças sociais, com o intuito de buscar soluções para diversos problemas da comunidade, como por exemplo, os problemas ambientais. Os empreendedores sociais são vistos como agentes reformadores e revolucionários que buscam melhorar o ambiente ao seu entorno com suas ações desenvolvidas proporcionando qualidade de vida ao seu próximo.
O empreendedor cívico pode-se dizer que está contido no empreendedor social, com um enfoque na gestão pública, na democracia, em políticas públicas e seus impactos no desenvolvimento sustentável de uma cidade ou território, ainda que apartidário. “Tem um entendimento sobre o tema cidades, em especial sobre o quadro institucional e os
processos políticos e de gestão” (RAPS – Rede de Ações Políticas Sustentáveis – Empreendendo Cidades e Territórios Sustentáveis – 2017). Poderá sim, ser um futuro gestor público ou mesmo já ter sido, tanto melhor, que este futuro político tenha nascido ou se emancipado para a vida pública partindo de governanças onde o empreendedorismo cívico-social tenha atuado na sua formação.
Vale destacar que o empreendedor cívico-social pode buscar a remuneração pelas suas ideias e projetos. Estes, bem como outros que sobrevivem de outras fontes e que apresentam o perfil de empreendedores cívico-sociais, podem desenvolver ações em prol da sua localidade, integrando governanças, colaborando para o desenvolvimento de um entorno onde se encontram seus negócios e familiares.
Diante da degeneração da democracia, da baixa qualidade da governança política e das inúmeras iniciativas de cidadania e democracia que se despontam, o exercício do empreendedorismo cívico-social presente nas organizações da sociedade civil podem sim melhorar as cidades, proporcionando qualidade de vida, desenvolvimento socioeconômico, preocupação com o futuro, formação de novos empreendedores cívico-sociais capazes de assumirem o papel de protagonistas em projetos de desenvolvimento e promover a formação humanística do cidadão com capacidade reflexiva e crítica perante a sociedade, o Estado e o Mercado.