O diagnóstico é repetido pelo dr. Drauzio Varella, que, por anos, trabalhou na extinta Casa de Detenção do Carandiru, em São Paulo: jovens que não estudam ou que frequentam péssimas escolas se transformam ali na frente em soldados do crime. Sem base educacional e desprovidos de conhecimento, ficam à deriva. O mundo do crime é a alternativa. O futuro comerciário, estagiário, médico e engenheiro vira soldado do tráfico. Do crime. Do horror. Não estamos preparando em larga escala nossas crianças e adolescentes para o bem da sociedade. Embora o direito à educação conste na Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Brasil vem perdendo uma das condições básicas para o desenvolvimento.
O Rio Grande do Sul está inserido nesse quadro e contribui para dificultar a vida das novas gerações. Com escolas precárias, ambientes inseguros e vandalizados, professores e merendeiras recebendo salário parcelado, há um convite para a deseducação. Em dois anos, o Rio Grande do Sul é o Estado que mais retrocedeu em português e matemática no Ensino Médio. Um número envolvendo o Ensino Médio no Estado é estarrecedor: em 2015, apenas 8,9% dos estudantes do 3º ano demonstraram nível de aprendizagem adequado em matemática. A cada 10 gaúchos concluindo essa etapa, menos de um está devidamente apto para uma realidade de mercado. A nova geração escorre por entre os dedos da mão próspera, inclusiva e segura que desejamos.
Parte dessa juventude fica pelo caminho, e estes novos gaúchos, desprezados pelo Estado que ofereceu escolas de lata, prédios sucateados e professores massacrados pela desvalorização salarial, em breve, voltarão a se encontrar com o Estado. Não mais em salas de aula, mas em confrontos violentos, tiroteios e presídios que parecem masmorras. O Estado que virou as costas para um então jovem indefeso é o mesmo Estado que precisará caçar o agora capacitado marginal. O Estado tinha o estudante dentro de uma sala de aula, mas foi incapaz de oferecer o mínimo de gestão educacional.
Ricardo Breier é presidente da OAB/RS