Tenho, reiteradamente, registrado aqui que nosso partido é o Brasil, e nossa ideologia é a Constituição. Pois foram exatamente estas as palavras do novo presidente nacional da OAB, o gaúcho Claudio Lamachia, também chamado “Lamáquina”, pela sua notória capacidade de trabalho. Ele tomou posse na segunda-feira, em sessão solene do Conselho Federal. E colocou, de imediato, o dedo na ferida: defendeu a união do país e estabeleceu que a Ordem, com a força e a credibilidade que possui junto à população, será fiadora desse processo.
Disse ele ter chegado o momento de reunificar o Brasil, “e a OAB e a advocacia desde já se colocam a serviço da Nação brasileira para tal feito”.
Segundo ele, a população brasileira não aguenta mais os desmandos de governantes e a corrupção endêmica que assola o país. Disse que “a deterioração do ambiente político chega a ser assustadora. Mudos para conversarem entre si, surdos para ouvirem o clamor da população que já sofre pela carestia, cegos para a desintegração dos fundamentos macroeconômicos do país. Assim estão os nossos agentes políticos. Não produzem mais soluções, apenas crises”.
“Lamáquina” observou, ainda em seu contundente discurso de posse que em tempos de ajuste fiscal, o governo aponta como única saída a recriação da CPMF. Mas o que se vê é, contraditoriamente, o aumento absurdo do fundo partidário e, pior, justamente em tempos de lava-jato. “A sociedade não suporta mais a atual carga tributária e nós vamos fazer tudo que estiver ao nosso alcance para mobilizar a sociedade civil organizada contra qualquer proposta que pretenda colocar novamente a mão no bolso do cidadão. Não aceitamos soluções simplistas para resolver problemas que não foram criados por nós”.
Depois de agradecer ao ex-presidente, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, pelo empenho em sua candidatura, o novo presidente da OAB prometeu rodar o país para levar a mensagem da advocacia – “exército com quase um milhão de soldados” – para apresentar o plano de gestão da OAB, com o integral apoio do Conselho Pleno e dos 27 presidentes de Seccionais. Ele arrematou com a citação do gaúcho Mário Quintana – “Uma vida não basta ser vivida: precisa ser sonhada – para dimensionar adequadamente o momento que vivia naquele momento da posse. Falou de seu orgulho de ser advogado e concluiu: “Gratidão é dívida que não prescreve, e serei eternamente grato a todos que foram decisivos nesta caminhada”.
Alguns pontos do discurso de posse de Cláudio Lamachia, são merecedores de destaque e atenção. Logo na abertura ele esclarece que “presidir uma instituição como a Ordem dos Advogados do Brasil – alçada pela Lei Fundamental ao patamar de voz da cidadania e, portanto, de veículo de substantivação de um dos fundamentos da República-, não é tarefa para um homem só.” É obra coletiva”.
E prossegue apontando o paradoxo que o país vive: se de um lado nossas instituições republicanas nunca funcionaram tão bem, de outro somos acometidos por uma crise política e econômica, mas que gerada por uma crise ética e moral sem precedentes, agravada sobremaneira pela absoluta paralisia da classe política, que perdeu totalmente a capacidade de diálogo. “A deterioração do ambiente político chega a ser assustadora. Mas a Nação é sem dúvida alguma maior que os resultados das próximas eleições. E isto temos que bradar por todo o Brasil. Precisamos transcender o calendário das urnas, para que as saídas eventualmente propostas não sejam condicionadas pelo casuísmo eleitoral, e sim pela consideração do bem-estar das próximas gerações.
E estabelece a necessidade de um novo contrato social da classe política com a sociedade brasileira, pois que não há democracia sem política e não há política sem políticos. É preciso depurar, porém, a política nacional. O país flerta dia a dia com a irresponsabilidade. Tangencia Inconsequentemente o precipício. Algo deve ser feito, e rápido, pois a falta de diálogo é a negação da política, e quando a política falha a convulsão social é a certeza. “A hora do Brasil começar a superar essa paralisia é agora! Nossa opção é pelo povo, expressão maior da cidadania que juramos defender. Afinal, somos advogados. Lutamos por justiça! A OAB se tornou a verdadeira defensora das causas da República e, ao que parece, a história a chama mais uma vez para defendê-la.O Brasil deve se reencontrar. O Brasil irá se reencontrar.