A expressão popularizada no livro “Brasil, País do futuro”, de autoria de Stefan Zweig, idealizava, ainda na metade do século XX, as características (extensão geográfica, potencialidades naturais, história, hábitos, cultura) que indubitavelmente tornariam nossa Pátria em uma nação moderna, rica e justa.
Ultrapassados muitos anos, a constatação é que infelizmente as previsões do Autor não prosperaram. Nada obstante os notórios avanços democráticos que experimentamos, a verdade é que ainda estamos muito distantes de uma sociedade concretamente contemporânea, mas do contrário, ainda estamos às voltas com as mazelas da desigualdade social, corrupção, violência, desestrutura organizacional.
Inegavelmente nossas chagas sociais estão historicamente ligadas à cultura de corrupção impregnada nos palácios da administração pública brasileira. Nossos representantes, destinatários da confiança da população, são inglória e majoritariamente os responsáveis pela longeva prática de ilegalidades, desmandos, desvios, descasos que levaram o Brasil de hoje a um quadro desolador.
A história brasileira é permeada de casos de usurpação do patrimônio público. A ladroagem institucionalizada sangra nossas riquezas e alija a população das condições de desfrutar de uma vida minimamente digna. O desemprego campeia e humilha milhões de famílias, a violência estupra diariamente a vida, a honra, a liberdade dos cidadãos, desvalidos das políticas de bem-estar, saúde, educação.
Os Poderes Constituídos, que Montesquieu pensou como instrumentos de equilíbrio e resistência aos arroubos dos regimes absolutistas, no Brasil tornaram-se a encarnação da antítese. São nos escudos dos Poderes da República que se sombreiam os assaltantes da Pátria, as castas que se refestelam nas regalias imorais, os esbulhadores do erário.
O Brasil da “Carta Cidadã” não respeita Princípios, Garantias, Direitos arduamente conquistados pelo povo, que em contrapartida recebeu a ganância, o clientelismo, a autopreservação dos privilégios e da ilegalidade usufruídos por uma minoria ilegítima.
O Estado-Paquiderme é perdulário, irresponsável, ineficiente. A Justiça é lenta, pesada, mórbida, inservível à massa ciosa de direitos. Somos representados pelos artífices de nossas desgraças. Estamos do lado de fora, pagando caro para uma minoria acintosa.
De fato, “o Brasil é o país do futuro”, não pelas crenças traduzidas no prólogo, mas pela falência moral que traduz o presente constrangedor.
Ao reconhecer o caos nos cabe lutar por uma sociedade verdadeiramente ética, onde nossos representantes populares pontuem-se por valores morais e que a honestidade seja muito mais que uma vã retórica, mas um compromisso inarredável de lealdade com os ideais de justiça plena para todos.