A crise pela qual passa o país chegou ao ápice na última semana, em decorrência das fortes especulações sobre condutas impróprias dos ocupantes da cúpula do poder político. É preciso apurar com agilidade as suspeitas levantadas. Em momentos como esse, é importante também refletir a respeito das estruturas do nosso sistema político para que consigamos, no futuro, rumos melhores para o Brasil.
A relação entre classe política e eleitores ganha destaque nos períodos eleitorais, como o das disputas municipais no segundo semestre deste ano. Nessas épocas, os interessados em se eleger invocam o “povo brasileiro” em propagandas e comícios. A população escolhe seus representantes de acordo com critérios variados, que vão da simples empatia até a imprópria troca do voto por favores.
Passada a eleição, no entanto, uma amnésia geral abate boa parte dos envolvidos nesse processo. Promessas são esquecidas. Grande parte do eleitorado não se lembra em quem depositou confiança. Assim, o Brasil chegou ao atual estágio da grave crise que o atinge em diversas áreas –na economia, na política, e, especialmente, na moral e na ética.
Cada um de nós, eleitores, pode dar sua contribuição para alterar esse quadro, adotando uma postura responsável na hora de escolher seus candidatos e, depois, cobrando dos eleitos que cumpram suas promessas, prestem contas de suas ações e não adotem práticas reprováveis no trato com a coisa pública. Cada cidadão tem responsabilidade por seu voto e defesa de seus ideais.
A revolta contra os escândalos de corrupção e contra as maquiagens na condução dos governos é uma oportunidade ímpar para o estabelecimento de um novo padrão ético na política e na sociedade. Precisamos de mulheres e de homens que sirvam à política e não daquelas e daqueles que se sirvam dela.
Fora do período eleitoral, grande parte da classe política parece se isolar e não ver a realidade do povo. Sem a visão dos reais problemas do Brasil, alguns agentes políticos permitem que a ineficiência do Estado se perpetue, alimentada por fatores como a corrupção, que drena recursos das políticas básicas de saúde, educação, segurança, saneamento e acesso à Justiça.
Outro fator que alimenta a ineficiência da máquina é a aplicação inadequada de verbas públicas, investidas de acordo com prioridades pessoais e partidárias de alguns caciques plantados na chefia de órgãos públicos.
Prova do alheamento dos dirigentes políticos com a situação do povo é o orçamento que conseguiram para as legendas comandadas por eles mesmos, aumentando o fundo partidário de R$ 311 milhões para inacreditáveis R$ 819 milhões. Ou seja: num momento de crise, quando a população é penalizada, a classe política reforça o próprio caixa com dinheiro público.
É longa a lista de episódios lamentáveis de descolamento entre o Olimpo do poder político e a realidade do povo brasileiro. Infelizmente, a própria presidente da República, líder máxima do país, é protagonista de vários deles.
No mesmo dia em que fez um pronunciamento dizendo que o país precisa criar um novo imposto (a CPMF) para sair da crise, ela sancionou o orçamento da União com cortes em investimentos sociais. O imposto aumenta, mas o nível já pífio de devolução em serviço público pode até cair.
A OAB convida a sociedade a refletir sobre o poder do voto e sobre os políticos que exercem seus cargos escondidos atrás dos vidros escuros dos carros oficiais, a bordo de jatinhos e dentro de palácios bancados com dinheiro público, sem ouvir a voz da sociedade.
É preciso também avaliar a postura dos que mudam suas propostas de campanha e, no curso dos mandatos, incluem agendas não aprovadas pelo povo, como a criação de impostos. Sobretudo ao longo deste ano eleitoral, é preciso mostrar que a sociedade não aceita mais esse tipo de descaso com o voto.