Neste dia 8 de março, poderia afirmar que pouco conquistamos.
Poderia apenas dizer que segundo a última divulgação do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, todos os dias, o Brasil registra 135 estupros e 12 mulheres assassinadas.
Lembraria que o mercado ainda paga à mulher 70% da remuneração dos homens, mesmo que elas trabalhem até 5 horas a mais por dia, como recentemente apontou o IBGE, porque sobre elas recaem as tarefas domésticas.
Ou que as mulheres são responsáveis por 40% do sustento dos lares brasileiros, um dado que retrata as valentes mães solteiras espalhadas pelo país.
Poderia afirmar apenas que ainda não completamos um século em que tivemos autorização legal para votar. Ou que até o advento do Código Civil de 2002, casamentos poderiam ser anulados se o “defloramento” da mulher fosse ignorado pelo marido.
Mas não.
Meu propósito hoje é exaltar a luta de mulheres que desbravaram campos que no passado era inimaginável pisar.
Mulheres que, mesmo trabalhando mais e com menos remuneração, dominam espaços antes inimagináveis e concretizam mudanças substanciais na rotina, aquilatando novos valores para vencer o argumento simplista do “é porque sempre foi assim”.
Uma pulga atrás da orelha já está instalada na organização de campeonatos esportivos após o constrangimento criado pela foto dos dois vencedores de uma disputa de skate, em que a discrepância da premiação trouxe à tona aquilo que o mercado de trabalho comete todos os dias com as mulheres.
Como em nenhum outro ano, a tônica deste carnaval foi o “não” como a linha tênue que separa a paquera do assédio.
Em todas as grandes premiações do cinema e da Tv, os discursos dos vencedores saíram do jargão das conquistas pessoais para bradar e erigir a necessidade de inclusão, a exemplo da fala de Frances McDormand, ao receber o Oscar de melhor atriz nesta semana.
Em outros tempos, talvez a manifestação abjeta proferida pelo vereador de Cacoal à Prefeita daquela cidade, pronta e corretamente repudiada pela OAB e outras instituições, passaria impune, como um dissabor a ser sentido apenas pela diretamente atingida.
Num universo que era essencialmente masculino, as carreiras jurídicas estão sendo ocupadas essencialmente por mulheres. O Estado de Rondônia, aliás, orgulha-se de ser o primeiro do país a superar, em número de inscrições na Ordem dos Advogados do Brasil, mais mulheres que homens.
Obviamente, esse dado oscila a cada entrega de credenciais, mas é de Rondônia a marca de se ter pela primeira vez 52% mais mulheres inscritas que homens na OAB.
Nesse dia 08 de março, é tempo de reflexão. Mas é tempo, sobretudo, de engrandecer a todas nós, mulheres, pelo muito que já fizemos e conquistamos, e pelo muito que faremos e conquistaremos.
Para tanto, é preciso que o silêncio seja antes silenciado.