De nada adianta buscar sentido ou explicação para uma ausência assim tão sentida, uma falta que ultrapassa os limites do pensamento lógico para instalar-se, insidiosa, justamente no coração e na alma. O falecimento do advogado Sergio Eduardo Fisher, que tive a honra de conhecer e de quem era impossível não gostar, é um desses casos que só admite alento no diálogo que pincei de um conto de Caio Fernando Abreu:
– E o que a gente vira quando vai embora de alguém?
– Uns viram pó. Outros caem igual estrela do céu. Outros só viram a esquina. E tem aqueles que nunca vão embora.
– Não? E eles ficam aonde?
– Na lembrança.
A inexorabilidade do destino nos induz a imaginar que ninguém é insubstituível nesse mundo. Não? Puro engano. Quem haverá de substituir tantas pessoas queridas que não nos freqüentam mais, a não ser nas lembranças e nos sonhos que delas não nos permitem esquecer? Seu lugar certamente haverá de ser ocupado no plano físico, de uma forma ou de outra, pois que a vida segue. Mas não haverá quem possa ocupar o lugar conquistado por Sérgio Fisher como ser humano especial nos corações e mentes daqueles que privaram de seu convívio, que encontraram nele modelo de cordialidade, de solidariedade, generosidade, competência profissional e ética.
Graduado pela Faculdade de Direito da Universidade Candido Mendes (UCAM-RJ), ele possuía larga experiência no patrocínio de causas complexas e estratégicas de clientes nacionais e estrangeiros. Merece destaque sua intensa atuação institucional, com participação por inúmeras vezes do Conselho Seccional da OAB/RJ, além de ter ocupado cargos importantes da Diretoria, na qual presidia o Tribunal de Ética e Disciplina. Foi conselheiro federal e chegou a ocupar, provisoriamente, a Secretaria Geral da OAB Nacional. Participou, ainda, das comissões organizadoras de concurso público de inúmeras carreiras jurídicas, incluindo a magistratura estadual e o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. Mas a marca de seu espírito foi sintetizada nas palavras emocionadas do presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz: “Perdemos um amigo, um irmão, o pai de nossa geração na Ordem”.
O certo é que a dimensão de sua ausência pode ser avaliada a partir das manifestações de pesar aos amigos e familiares, em especial à sua esposa, senhora Vânia Cristina Martins Zambrano, publicadas por tantos amigos, admiradores, escritórios de advocacia, órgãos, entidades e instituições desde quinta-feira. Decidiu o destino que seu falecimento acontecesse justamente no dia em que se registra o centenário de nascimento de João Cabral de Melo Neto. Poeta que denunciou em versos a morte brasileira na vida “severina” e miserável do retirante nordestino: “a morte de que se morre/de velhice antes dos trinta,/de emboscada antes dos vinte/de fome um pouco por dia”. De fato a vida segue. Mas um tanto macambúzia sem Sergio Eduardo Fisher. Sua ausência nos deixa o espírito um tanto mais severino.