Ainda que com o risco de parecer repetitivo, permito-me abusar da paciência do leitor para voltar ao assunto, pois que me parece oportuno nesse período pré-eleitoral. Vamos lá: Não é o político que se transforma em bandido. É o seu voto que transforma o bandido em político. É preciso que todos tenham a consciência de que o momento de corrigir eventuais erros é agora. Não adianta, mais tarde, vaiar o prefeito que você ajudou a eleger. E você ajuda de diversas formas, ainda que não vote nele. Os formadores de opinião que deixam de se manifestar. As pessoas mais esclarecidas, que deixam de colaborar para melhor conscientização de colegas, amigos e parentes sobre a importância do voto. Ou aqueles que, indignados, simplesmente se recusam a votar ou pregam a anulação do voto. Todos esses estão trabalhando a favor da eleição dos maus administradores. E todos nós vamos pagar por isso pelos próximos quatro anos.
É realmente preocupante o volume de manifestações nas redes sociais de pessoas que, a pretexto do inconformismo generalizado pela bandalheira da política nacional, pregam abstenção ou a anulação do voto. A ausência dessas pessoas não apenas nas urnas, mas também na formação de opinião, especialmente nas redes sociais, apenas irá favorecer àqueles que “fazem de tudo” nas eleições para, depois de eleitos, prosseguirem na tarefa de não honrar a confiança que lhes fora democraticamente outorgada pelo povo. Deixar de votar e de ajudar a combater o engodo e a mentira somente irá pavimentar seu caminho de acesso ou de volta ao poder. O País não suporta mais isso e desistir da luta nem de longe pode significar um protesto. O voto é obrigatório, mas também é um direito conquistado a duras penas nesse país – basta observar nossa história. Abrir mão dele significa entregar literalmente o ouro aos bandidos.
É de se lamentar, ainda, que pessoas com elevado nível de esclarecimento coloquem-se assim tão claramente contra qualquer perspectiva de mudança para a realidade nefasta do país. É preocupante que autoridades e jornalistas de grande expressão se manifestem contra a proibição das doações empresariais para as campanhas argumentando que isso irá elevar a níveis estratosféricos o uso do caixa 2. É inaceitável este raciocínio. Está sobejamente comprovado o que custou ao país a associação espúria de empresários com membros da classe dirigente. As campanhas milionárias bancadas com dinheiro desviado dos cofres públicos já levaram muita gente à cadeia. E há uma longa fila de espera. Se a proibição fomenta o caixa 2, basta que haja rigorosa fiscalização e severa punição dos casos confirmados. Fundamental, contudo, é a consciência do eleitor. O presidente nacional da OAB, Cláudio Lamachia, concedeu, a propósito, esclarecedora entrevista ao jornal Folha de Londrina esta semana. Ele anunciou o compromisso da Ordem com uma campanha nacional de conscientização e de valorização do voto e combate ao caixa 2. Uma escolha mal feita – lembra ele – resulta exatamente no quadro que vemos hoje na política nacional.
“Nós queremos conscientizar a advocacia e a sociedade brasileira da importância que tem o voto: voto não tem preço, voto tem conseqüência. Porque esta é a grande maneira que nós temos de mudar este cenário. Não existe outra. Claro que nós temos que punir, que essas pessoas têm que ser investigadas e, depois do devido processo legal, devem pagar pelos seus atos aqueles que forem condenados. Mas não é só isso que vai resolver.” Lamachia observa que, para além das crises política e econômica que o Brasil hoje enfrenta, o que existe de fato é uma crise moral sem precedentes. “Nós elegemos os que nos representam por força da Constituição Federal. Porém, quando fazemos uma avaliação crítica do momento atual, precisamos também fazer um mea culpa: somos os maiores responsáveis hoje pelos ‘eduardos cunhas’ que temos no Congresso Nacional.”
Lamachia não acredita em aumento do caixa 2 na campanha: “A fiscalização vai demonstrar aos políticos que vai haver, sim, um controle muito grande sobre as suas campanhas eleitorais, sobre os gastos. Os políticos terão 72 horas para lançar seus gastos na internet, nos tribunais regionais eleitorais. Será um mecanismo extraordinário para o cidadão acompanhar e, com isso, cada cidadão pode se tornar um fiscal. Sem dúvida nenhuma é uma mudança de paradigma e nós temos que acompanhar pari passu. E, por isso, a OAB tem um projeto neste sentido, de criminalizar o caixa 2 de campanha. Nós estamos atuando em todas as pontas.”