O Dia Internacional da Mulher, oficializado em 1975, ano que a ONU intitulou de Ano Internacional da Mulher, para lembrar suas conquistas políticas e sociais, rememora as manifestações, greves e lutas de movimentos femininos inicialmente reivindicando melhores condições de trabalho, direitos sociais e políticos, lutando por igualdade de tratamento com os homens.
O dia 24 de fevereiro de 1932 foi um grande marco na história da mulher brasileira. Nesta data foi instituído o voto feminino. As mulheres conquistavam, depois de muitos anos de reivindicações e discussões, o direito de votar e serem votadas para cargos no executivo e legislativo.
Ao ser criado o Dia Internacional da Mulher – 08 de março – a data, não se pretendia apenas comemorar. Na maioria dos países, realizam-se conferências, debates e reuniões cujo objetivo é discutir o papel da mulher na sociedade contemporânea. O esforço é para tentar diminuir e, quem sabe um dia extirpar a desigualdade e o preconceito contra as mulheres.
A despeito de todas as lutas travadas e vitórias granjeadas, temos ainda muito o que conquistar, dia após dia nos deparamos com situações absurdas de desrespeito, abusos, violência, feminicídio, objetificação e invisibilização praticadas conta mulheres em todo o mundo.
No Brasil, levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela que o número de estupros praticados contra mulheres e meninas aumentou 3,7% em 2021, o que traduz em um estupro a cada 10 minutos. Em relação ao feminicídio, os registros caíram 2,4%, mas o país segue com dados alarmantes de um feminicídio a cada sete horas.
A cruel realidade a que nós mulheres estamos expostas deve provocar em toda a sociedade um profundo desejo por mudança dessa realidade, tanto de forma preventiva, na criação e educação dos meninos e meninas de forma igualitária, quanto na repressão veemente dos violadores dos direitos e abusadores de mulheres.
Já alcançamos direitos políticos, já nos equiparamos civilmente aos homens, podemos ocupar cargos de chefia e políticos de alto escalão, sentar nos bancos universitários, liderar pesquisas científicas, enfim, ocupar todos os espaços, porém ainda somos injustiçadas, interrompidas quando falamos, ignoradas onde há predominância masculina e invisibilizadas como os recentes casos envolvendo a Presidente da Comissão da União Europeia Ursula Von Der Leyen em reuniões com chefes de Estados.
Ainda há muito a se conquistar, sobretudo, no quesito respeito, de onde derivam todas as demais condutas que nos reduzem. Enfrentamos todos os obstáculos que uma sociedade eminentemente machista pode impor – Somos as maiores vítimas de violência doméstica e sexual, somos assediadas, violentadas e ainda sofremos violência obstétrica, como relatos também recentes da influenciadora digital Shantal praticados por um famoso médico obstetra, durante o parto de sua segunda filha.
Experimentamos preconceito de gênero, somos rebaixadas profissionalmente, a medida em que recebemos menores salários que os homens pelo mesmo serviço prestado. Raramente somos reconhecidas por sermos bem sucedidas, na maioria das vezes imputam haver um homem nos elevando. Não somos valorizadas pelo serviço doméstico e pela criação dos filhos, como se tais tarefas fossem exclusivamente femininas.
Temos garantido direito constitucional à igualdade, mas na prática vemos o pêndulo da balança desequilibrado – jornada dupla, tripla e até múltipla para sustentar a família, sobrecarga laboral e financeira, abandono afetivo e material que sempre nos colocam em desvantagem perante os homens.
Não raramente vemos cenas, falas e acenos de objetificação da mulher, a mais recente delas, a repugnante narrativa do deputado federal por São Paulo, Arthur do Val (Mamãe Falei) destilando sua lascívia sobre as ucranianas refugiadas, subjugando-as de “mulheres fáceis porque são pobres”. Uma escória machista que não perdoa sequer a abominável situação de guerra que expõe essas mulheres a máxima vulnerabilidade social, para delas escarnecer.
É com esse olhar deveras crítico, minucioso que nos aponta uma longa caminhada a percorrer empunhando nossas bandeiras para, verdadeiramente, alcançarmos a igualdade de direitos e oportunidades com os homens.
Para tanto é preciso que façamos bom uso do 8 de Março como um Dia de reflexão e AÇÃO. De discussão das pautas femininas em busca de reparar o histórico desequilíbrio social de supremacia dos homens sobre as mulheres.
Imprescindível, pois, que trabalhemos em impor respeito e estabelecer a equidade, combatamos o patriarcado e estimulemos meninas e mulheres a ocuparem cargos de poder para que possam priorizar políticas públicas e ações afirmativas que garantam a efetiva liberdade e igualdade entre os gêneros.
Por Márcia Dantas Tupan
Vice-presidente da CMA/RO triênio 2022/2024