Eles cometeram violência familiar ou doméstica contra a mulher e, em grupos reflexivos, recebem oportunidade real de mudança de comportamento por meio de ações de responsabilização e educativas. Ao todo, 50 homens assistiram na segunda-feira, dia 11 de março, ao filme Vidas Partidas, uma ficção com um triste paralelo com a realidade de muitas mulheres, inclusive a que dá nome à Lei 11.340/2006.
Como a Maria da Penha, que inspirou a legislação, a personagem do filme também fica paraplégica por causa de um tiro, dado pelo próprio marido.
A sessão de cinema é uma das atividades da Semana da Paz em Casa, dentro dos projetos Abraço e Semeadura. Logo após a exibição, os profissionais do Núcleo Psicossocial promovem um debate com os participantes, esclarecendo os padrões da violência e as mudanças necessárias para mudar essa realidade nos lares.
A exibição do filme, nesta semana, é apenas uma das 10 sessões que os frequentadores são obrigados, por força da sentença. Em cada uma temas diferentes, esclarecedores e impactantes. “Eles chegam aqui com uma postura impaciente, sem crença na metodologia, porém, após as primeiras sessões, já manifestam a diferença que o trabalho está fazendo na vida deles”, esclarece a psicóloga Mariângela Onofre, que coordena as sessões com as mulheres do Projeto Abraço, pioneiro no âmbito do Poder Judiciário do país, idealizado pelo Juiz Álvaro Kalix Ferro e implementado em 2009.
As vítimas também participam do Abraço, mas de forma voluntária. As sessões de terapia, no caso, servem de apoio psicológico para conseguirem superar a violência e seguirem suas vidas com mais autoestima e empoderamento.
“Geralmente, elas chegam com muitas dores, sobretudo psicológicas; afinal a violência doméstica é cometida pelo companheiro em quem elas depositavam confiança e amor. São sonhos destruídos por comportamentos machistas, ameaçadores, opressores”, completou.
No Semeadura, homens com problemas de adicção de álcool e drogas recebem um acompanhamento mais específico. “Sabemos que drogas podem detonar comportamentos violentos, por isso temos de nos preocupar com o tratamento desses homens, para que não voltem a agredir”, explica Cristiano de Paula.
Aliás, tanto no Semeadura quanto no Abraço são baixos os índices de reincidência, e esse é o indicador de que o caminho para enfrentar a violência passa por uma mudança de cultura, conforme destaca o juiz Álvaro Kalix Ferro, titular do Juizado e coordenador de Mulheres do Tribunal de Justiça de Rondônia.
“O trabalho realizado aqui em Rondônia é pioneiro e se tornou referência para outros estados. Outras comarcas também utilizam a metodologia que tem feito diferença no combate à violência de gênero, algo complexo que precisa de uma visão ampliada para se lidar”, completou o magistrado.
As sessões de cinema reflexão ocorrerão mais duas vezes ao longo da Semana da Paz em Casa: na terça, 12, com o grupo de mulheres vítimas. Na quarta, será a vez do grupo terapêutico de homens do Abraço. Sempre com o propósito de promover o debate.